Apresentou-se calmamente a mim.
Possuía uma simplicidade quase constrangedora. Era como fogo e água: tudo
ao mesmo tempo. De calças jeans para que eu não me assustasse, além de que
sempre falava com as pessoas com uma expressão facial que nunca tinha
visto.
Era Ele, tinha que ser Ele.
Veio até mim já sabendo meu
nome. Quando olhou em meus olhos, algo estranho acorreu: olhava meu
coração. Mas como pode ter feito aquilo? Em seus olhos, vi meus segredos,
vi meus sonhos e meus próprios pecados escondidos. Ele me via. Jesus me
via, enxergava-me totalmente, sem tarjas,sem rótulos: apenas eu – o que era e o
eu que escondia ser – e era isso que mais me assustava.
Percebendo meu desconcerto,
Ele levou-me até uma sala de cinema. Sim, Jesus me levou até uma sala
de cinema. Eu pensei, inquieta: o que poderia estar acontecendo? É agora que eu
morro? Elevai dizer que está decepcionado comigo, que não esperava tudo
isso de mim... Quando penso em fugir, Ele pega minha mão. Acabou, vou ser
levada para o tronco, penso.
Um filme
começa. E não, não era a paixão de Cristo. Não era nenhuma longa metragem que
você queira ver. Era minha vida. Era a minha mente... meus pensamentos
mais tenebrosos expostos ali, uma eternidade de horror. Meus pecados? Estavam
ali também. Todas as palavras inúteis, maldosas e desconcertantes? Tudinho. E
eu e Jesus, num silêncio mortal. Não ousava fi tá-lo. E Ele continuava
a assistir ao filme, sem encarar-me uma única vez.
Começo a chorar e balbucio:
Jesus, mas... Desculpe-me. Ele então, curiosamente, se levanta daquela cadeira
e por incrível que pareça não estava com um chicote. Ele vai até uma outra
sala e leva a mim uma grande pilhas de arquivos.
Uma papelada volumosa estava agora em
minhas mãos e chamava-se “Bruna Sant’Anna”. Tinha de ser a minha
sentença... depois que Ele viu tudo aquilo, era a única resposta que me
ocorria. Então, comecei a ler. O primeiro volume chamava-se “Pecados” (e
estava com um tamanho considerável). O segundo, “Pensamentos Impuros”.
Lendo um a um, chego no oitavo, aliviada, já que estechamava-se “Pessoas a
quem evangelizei” . Mas havia um pequeno problema: nele, estavam escritas
apenas 4 frases.
Ao fim de cada doloroso
documento, havia uma assinatura em uma lacuna destinada ao responsável
daqueles atos, e já que o documento tinha meu nome, lá estava a minha
assinatura. Era culpa minha. Tudo aquilo. Podia ficar pior?
Eu estava desesperada.
Primeiro, Ele me mostrou aquele filme pavoroso, e agora um arquivo com
todas as minhas besteiras descritas (detalhadamente). Queria apagar tudo
aquilo, voltar ao passado, me esconder, fugir. A final, quem estava ali,
era Jesus... poderia ser mais constrangedor?
Mas, pouco antes do meu
provável surto, Jesus pega uma caneta vermelha. E, para minha surpresa,
retira carinhosamente os arquivos da minha mão e põe em seu colo. Olha pra
mim, mansamente sorri e começa a assinar um por um, na lacuna onde estava meu
nome, inclusive o histórico mais horrível de todos eles. Ele lia, não se espantava
e desenhava o Seu nome em cima da minha assinatura. Em vermelho. Em
intenso e constrangedor vermelho.
Foi assim que nos conhecemos.
Ele tomou o prejuízo pra si, ao olhar em meus olhos. Ao olhar-me,compadeceu-se
e assumiu a dívida que me pertencia. Apagou meu nome do arquivo com sangue, e o
sangue de inestimável valor. Descobriu minha vida, e assim eu pude me
descobrir. Experimentei a sala de cinema, a leitura do arquivo, mas não
fui acusada. Fui amada. Ele é o Deus que quebra paradigmas, que me vê por
completo sem se assustar. A água viva. A vida. O Deus da caneta vermelha.
Quando vós estáveis mortos nos pecados,
e na incircuncisão da vossa carne, vos
vivifi cou juntamente com ele, perdoando vos todas as ofensas, havendo riscado
a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz.
– Paulo, em Colossenses 2:12-14
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